quarta-feira, janeiro 30, 2008

No melhor estilo do "Vale a Pena Ler de Novo" (ao menos pra mim), um dos posts dos primórdios, épocas em que discutíamos assuntos nos almoços e pizzas frias. 06/jan/2005.

Tenho pensado em enveredar para os romances, tipo ensaio - coisa humilde. Mais ou menos assim:

Dia sim, dia não, aquela voz inconfundível lhe dizia alô. Alguns dias mais rouca - "hoje ela chorou", pensava ele - outros dias com esperança.

Sabia que algo, bom ou ruim, tinha acontecido na vida daquela anônima cliente pelo tipo de filme que ela procurava. Afinal, em 4 anos como atendente naquela locadora, tinha desenvolvido uma relação do humor do cidadão com o filme escolhido. Conhecia filmes e conhecia pessoas. Não se concebe um sujeito comum, cabelo partido de lado (meio criado por vó), camisa pra dentro da calça chegando na locadora sedento pelo "Trainspotting" ou "Laranja Mecânica" - Se você encontrar um assim, saiba: ele tem uma uzzi e vai usá-la em um shopping qualquer.

Anyway, naquele dia (um dia "sim") ela não ligou. Achou estranho, pois a última pedida tinha sido "Barfly, Condenados Pelo Vício". Ela estava mal!

Não a conhecia, só o nome: Vera. Em um primeiro momento, decorara o nome pois, todas as vezes que ela falava Vera (com o sotaque típico carioca), na sua cabeça cantava: "..Does anybody here remember Vera Lynn? Remember how she said that: 'We would meet again, some sunny day'. Vera! Vera! What has become of you? Does anybody else in here feel the way I do ?" do trecho de The Wall. Depois, passou a sentir falta do "douze", "góixto" que não demorou a perceber que era "doze" e "gosto".

Sempre que reservava um filme (atenção dada só a ela), um funcionário do escritório buscava o dvd.

Pensava nisso quando faltavam 5 minutos para fechar. Do nada, ouviu: "Jorge?" Não seria difícil para ele, contando esse primeiro encontro meses e meses depois, descrever a sensação que teve quando olhou para trás e a viu pela primeira vez.

Era ela! A voz rouca e sua expressão perdida a deixou mais...MULHER.

"Ainda dá tempo?", ela perguntou. "Pra você, sempre!" disse, já se arrependendo da canalhice. Ela riu, achando graça no galanteio e pediu: "Quero que você me indique um filme, um alegre, pode até ter 'Amor' no título. Cheguei a conclusão de que um ano foi tempo suficiente para velar um namoro falido." E ali ficaram por horas e, depois de transarem pela segunda vez, decidiram que era hora de ir embora.

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu sou suspeitíssima pra comentar, pois adoro boa parte do arquivo desse blog...

Roginho disse...

Mesmo não sendo comédia, me senti lendo uma crônica do Luís Fernando Veríssimo!

E o carnaval, Chris? Ainda tá rolando no blog? Heheheh!

Um abraço, man!