sexta-feira, agosto 25, 2006

Fui uma criança muito amada, sei e sinto isso até hoje, quando o meu pai relata as tarefas tidas e havidas por todos que me cercavam; minhas avós trocando o turno, faltavam só bater cartão... Minha mãe e meu pai fizeram o que podiam ou estavam preparados para; eu respeito, agradeço e espero ser digno de suas ofertas.

Não sei quantas vezes eu disse aqui que já passei dificuldades. Em Itamonte, depois que minha mãe voltou para BH e minha avó também, fiquei com meu tio e meus primos. As dificuldades eram tantas que escondíamos comida no armário. Lembro-me de quando um bife de colchão mole dividiu a gaveta com minhas roupas. A minha única receita, aos 17 anos de idade, era 40% do salário mínimo advindos do aluguel de um telefone que pertencera ao meu avô. Acordava 5 da manhã para pedir carona, pois eu estudava em Itanhandu e precisava da grana para lanchar na escola. Pescava no riozinho para ter algo a mais no prato. Alguém já experimentou colocar goiabada no arroz para dar um gosto diferente?

Já escrevi e li outras tantas vezes que as dificuldades moldam o caráter do sujeito. Tantas outras dificuldades eu já vivi e estou vivo. Mas eu aprendi que os dois temperos da experiência humana são a dor e a emoção. Levo esse ensinamento comigo.

Estou em outra fase da vida, madura, tenho certeza! Encontrei na minha vida pessoas maravilhosas e para com elas tenho gratidão e respeito. Hoje sou uma pessoa que ama, e que, com a pessoa amada, encontra, dia após dia, o caminho da felicidade.

Dói às vezes, confesso! Mas não temos medo da dor. Eu tenho certeza de que, quando olharmos para trás, veremos muito mais buracos e armadilhas que não nos demos conta, que terão sido ultrapassados ou simplesmente ignorados, pois não temos tempo para perder. Só existe uma ÚNICA chance de vencer e aceitamos essa chance como motivo para nossas vidas. Não aceitamos facilmente a derrota, aliás, nada sabemos sobre ela.

Sobreviventes, amor, somos dois sobreviventes. Parabéns por mais essa conquista!

sexta-feira, agosto 11, 2006

Estou na sacada do meu apartamento e olho pra São Paulo. É de noite que esta cidade se torna bela, iluminada. Não há o cinza nem a fumaça que dá esse tom, os carros e seus faróis passam a fazer parte da mobília móvel, decorando a cidade com suas luzes.

Sinto-me forte e minha solidão é que me dá força. Não preciso de nada e nem ninguém. Não quero que você pense sou auto-suficiente; sou um solitário convicto. Apenas isso! Não preciso de nada e nada me preenche. Sou uma ilha e jamais cantarei “Strumming my pain with his fingers” como o babaca do Hugh Grant fez em “O Grande Garoto”.

Estou na minha sacada, com a luz apagada, e vejo contornos. Vejo uma mulher solitária assistindo televisão, pobre coitada. Deve ter um filho ausente que, de vez em quando lembra da mãe e lhe dá um telefonema, só mesmo para aplacar a consciência. Quando sua mãe morrer poderá dizer que jamais a abandonou.

Da minha sacada também vejo um loser de posse de uma breja barata, uma kaiser quente vai ver, parece que venta muito pelos lados de lá. Não consegue se equilibrar e, naquele momento, cozido de cachaça, deve estar a caça do telefone, para ligar para alguém que já foi seu amigo e dizer que o considera bastante, que sente falta dos tempos em que barranqueavam as vaquinhas no sítio do primo de um deles, no interior de um lugar qualquer.

Da minha sacada eu vejo outra sacada, também de luz apagada. Vejo dois corpos que por milagre parecem um. Vejo algo que parece um corpo de mulher, uns 3 degraus acima do que convencionamos chamar de beldade. Ela se contorce, imagino que grita e arranha, dominada pelo “algoz”, um homem que deve ter sofrido muito numa vida anterior, para ser merecedor de tamanha prenda. Eles parecem extasiados.

Da minha ridícula solidão vejo outro solitário, que também contempla o casal de amantes. Eu tenho medo de olhar pra ele, pois ele é o meu espelho. Ele também não tem alguém com quem compartilhar a vida. Ele também é uma ilha, um loser, um esquecido, alguém que tem a garrafa como companhia e a esperança de um telefonema.

Eu quero uma outra sacada!