terça-feira, março 27, 2007

Se eu sinto falta de escrever aqui no blog? Pode até ser, mas sinto mais falta de outras coisas, coisas essas que não posso ter mais.

Não tenho mais 10 anos, e não vejo meus pais correndo atrás dos quitutes necessários para a minha festa de aniversário, desesperados, pois já são 10 da manhã e a turminha chegará às 4 da tarde. Mas aos 10 eu não tinha nem noção de como era a vida e tinha tantos planos, tantos sonhos... Tão distantes da minha então realidade! Quem é saudosista da tenra infância acho que não aprendeu com os percalços da vida e fica remoendo cada momento de dificuldade, com o velho chavão “Ah, quando eu era pequeno eu não sabia como era feliz”... Logo, crescer faz parte do processo e não tenho do que reclamar.

Não tenho mais 16 anos, e meu cabelo não é mais comprido. Se eu parar pra pensar (duas coisas difíceis hoje em dia: “parar” e “pensar”), ainda bem que eu não tenho mais o cabelo comprido. Mas ter o cabelo faz diferença. Tenho muito mais cabelo do que eu supunha que teria aos 33. Logo, não sei por quê estou reclamando...

Não tenho mais 17 anos, e não moro mais em Itamonte. Apesar de amar Itamonte, ainda bem que não moro mais lá... Não daria pra ter feito tanta coisa se eu ainda estivesse ao sopé da Mantiqueira. Não teria viajado, não teria conhecido e aprendido, observando tudo e a todos. Mas ter vivido em Itamonte fez a diferença. Hoje tenho a possibilidade de ir a Itamonte (estou a menos de 3 horas de distância). Logo, minha reclamação não procede!

Não tenho mais 18 ou 21 anos, e a transição para as idades-emblema não existe mais. Foi muito interessante quando, no aniversário de 21 minha mãe fez uma festa surpresa. A alegria de uma surpresa como essa é deliciosa e nos emociona. Mas hoje ganhei uma festa surpresa, que minha esposa e minha gata prepararam pra mim. Direito a balões, bolos e velas. Strogonoff como prato principal e 33 velhinhas brancas, simbolizando essa outra (e quase esquecida) idade-emblema: 33, a famosa idade de Cristo, tão alardeada em bingos e em outros momentos em que cabe tal associação. Logo, sou de fato uma pessoa afortunada.

Não tenho mais 24 anos, e minha mãe não me desejará feliz aniversário. Disso realmente eu sinto falta. Mas parece ser a relação natural das coisas, tudo o que é vivo hoje, amanhã não está mais. Para lembrar-me dela basta passar minha mão (áspera, como a dela) no meu braço e é como se ela estivesse me acariciando. Ela me visita nos sonhos e conversamos bastante, a ponto de fazer o que fazíamos de melhor: discutir por qualquer motivo. Mas ainda assim não posso reclamar... Ela se foi sem ter vontade de ir embora, não foi só para me irritar. Tenho a minha vó Henriqueta, o meu pai, as pessoas que amo tanto. Nada disso substitui ou ameniza as faltas (minha mãe, minha Tia Maria Eliza, o Bolinha), mas a vida é mesmo assim.

Obrigado pelos votos, obrigado por se lembrar da data. Valeu!