terça-feira, fevereiro 14, 2006

Mãe, está chegando...

Nunca conseguiria explicar melhor minha mãe como o fiz nessa homenagem escrita na época do seu aniversário(16/fev) no ano passado. Assim, como uma vela acesa todos os anos, publico-a novamente aqui.

Ela nasceu Georgina em Curitiba e cresceu Juju em Belo Horizonte, talvez por não gostar do nome que lhe fora dado em homenagem à avó, Georgina Martins Pena Gomes e Souza (sobrenome histórico de republicanos mineiros – Pena – e monarquistas – Gomes e Souza). Nem mesmo o alento de saber que a filha de Vinícius de Moraes também se chamava Georgina a fez achar alguma leveza naquele nome (e até mesmo o apelido) que herdara. Era pesado ser a “Jujuzinha”, neta dileta da matriarca de uma família de pretensos ex-poderosos, que como tais, carregavam o orgulho e a empáfia ao se apresentarem como “um Gomes e Souza” e sobrinhos-neto de Afonso (o da avenida). De uma família de 10 irmãos, sua irmã Ana e ela foram as únicas não contaminadas pela “maldição da família decadente” e deram gente na vida; Juju foi a única que mereceu o direito de ver seu nome grafado em livros e nos registros de bibliotecas assim: Gomes e Souza, Georgina.

No colégio Santa Marcelina percebeu o que queria ser na vida: professora. E assim foi! Pedagogia e Filosofia foram as faculdades por opção e vocação; Direito fez para acompanhar o namorado, promovido a marido e depois a ex. São João Nepomuceno, São Lourenço e Diamantina entraram na sua rota, dando continuidade à jornada da sua vida, sem eira nem beira, um horizonte diferente em cada lugar. Depois pós-graduações (diversas, fazia duas por vez), Itamonte e mestrado no Rio, e mais uma vez a cigana Juju foi para o mundo: professora na UFF de Niterói, na Federal de São João Del Rey e de Juiz de Fora, viajou para Cuba (como todo professor universitário semicomunista) e doutorado (que a vida – ou a falta dela – não permitiu terminar).

Construiu sua última casa no Espírito Santo e lá ficou para sempre.

Fui seu escudeiro, crítico e confidente. Aos 12 anos lia “Grande Sertão: Veredas” para conversar sobre a sua tese que comparava a ética entre grupos marginais; discutíamos os finais de filmes e as letras de músicas. Éramos tão parecidos que muitas vezes não nos agüentávamos!

Fui filho também, e herdei sua alma cigana.

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