segunda-feira, janeiro 02, 2006

É engraçado como, depois do fato consumado, costumamos encontrar “sinais de aviso” em cada acontecimento estranho. Um cachorro preto que te olha insistentemente, uma placa de retorno e uma vontade estranha de segui-la, tudo passa a ser visto como “bem que você foi avisado”.

Mas não fui (e tampouco acredito nisso) e a verdade é que aquele pobre animal não deveria estar naquela curva. Ele ouviu quando os meus pneus deslizaram na pista molhada e deve ter visto a expressão dos meus olhos e todas as minhas tentativas de reduzir a velocidade do carro. Eu vi os seus olhos. Vi o seu desespero. Juro que, ao de vê-lo vivo e correndo (desnorteado, é claro) de volta para o pasto, quis-lhe mal. Desejei que ele tivesse machucado mais, morrido mesmo. Faltando 350 Km para chegar em SP ficar com o pára-brisa todo quebrado, com um baita rombo no canto direito, e o capô todo amassado, deixou-me com a sensação de fim de viagem a bordo de um reboque qualquer e um prejuízo não planejado para o começo de ano; aliás, que comecinho de ano filho da puta.

Chovia, e chovia muito. Aguardar o guincho não seria de todo ruim, se ele não viesse acompanhado de R$600 como extra na quilometragem não assegurada. Decidi que eu seguiria até SP nessas condições. Foi a viagem ao inferno! Cada posto da Polícia Rodoviária era um suplício, pois o meu medo era ser parado e acusado de ter atropelado alguém e de tê-lo deixado para trás. Passei por todos e por todo o congestionamento de uma cidade com 7 milhões de habitantes retornando aos seus lares. E a toda hora meu pai me ligava para saber se eu ainda estava vivo. Com o pára-brisa quebrado, com água dentro do carro, mas estava.

Eu, que sou contra matar uma formiga, vi o sangue escorrendo no canto da boca daquele cavalinho branco, um pobre coitado que atravessou o meu caminho. Às vezes bate uma deprê...

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