quinta-feira, dezembro 15, 2005

Dona Henriqueta casou-se tarde, para os padrões da época: 22 anos. Antes disso, ela só queria saber de pescar e caçar passarinho com seu estilingue, sempre acompanhada de sua gata, a “Papa-peixe”.

Quando ela se casou, não sabia fritar um ovo. Cozinhar era uma das prendas mais valorizadas de uma moça boa para casar. Sua mãe, Dona Anucha (apelido carinhoso), uma italianona calabresa, jamais a ensinara coisas de casa. Qual não foi a sua surpresa ao saber que, desde o momento do “sim”, ela passara à condição de provedora dos alimentos de casa?! O seu primeiro presente de casamento foi um livro de receitas. E com toda a maestria ela perdeu o ponto do molho, ponto que até hoje procura. Dizem que quando ela erra no tempero ou no tempo de cozimento, a comida fica excelente. Seus netos que o digam. Eu posso dizer.

Mas minha avó é uma guerreira e quase santa. Dizem que, no armagedom, 144000 já estarão salvos da ira de Deus e que os outros passarão pelo julgamento. Minha avó tem cadeira cativa entre a galera VIP, e o lugar dela é dos melhores. Mas cozinhar não sabe. Teve 11 filhos, parece que as qualidades dela eram outras.

Todas as vezes que eu pergunto ou falo besteira, ela finge brigar comigo. Mas gosta de falar besteira. Diz ela que meu avô, dias antes de morrer com 77 anos, contribuiu. Parece que ela era fogo...

Ontem combinamos que ela passará um mês comigo em SP, agora em janeiro. Combinamos que tomaremos vinho, assistiremos à novela e que irei levá-la ao Programa Silvio Santos. E ela faz questão: dormir do meu lado para poder cantar para mim. Com uma ressalva! Um travesseiro entre os dois, pois ela disse que costuma sonhar... Ô velhinha safada!

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