segunda-feira, julho 11, 2005

7. Camila, Camila – Nenhum de Nós

Minha mãe me convenceu que eu deveria me mudar para Sta. Rita do Sapucaí. Fui morar em uma república, disposto a estudar para o “vestibular” da ETE. Seria a minha primeira experiência sem a minha mãe por perto. Como foi difícil...

Apanhava todos os dias na rua. Eu tinha 14 (faria 15 em março) e lutava Tae-kwon-do... Mas eu não usava por uma questão de inteligência. Contra um ou dois (to me achando...), ainda vai. Mas uma galera de 5 já não valia nem a pena. Deixava que eles me dessem o “trote”, pois eram caiçaras e os responsáveis por conceder o salvo-conduto.

Meu apelido nesta época? Lambari! Desnecessário, eu diria, pois acreditavam que Itamonte era vizinha a Lambari, o que demonstra total desconhecimento geográfico; além de me tirar qualquer possibilidade de uma aproximação consistente em qualquer moça com mais de 20 dentes na boca. “Com quem você esta ficando?” “Ah, com o Lambari...” O pior é que, caso eu desse a sorte de cair nas graças de alguma moça de lá, eu estaria frito! O anonimato era a minha arma e a minha salvação. Zero chance!

Era o início de 89 e era época de Sassá Mutema. Algumas músicas tocavam na rádio e lembro-me particularmente de uma: “O Astronauta de Mármore”, talvez por ser tema dessa novela. Eu assistia muita novela. Essa música talvez tivesse marcado esse período da minha vida, mas eu a achava muito brega. E mais, ela sempre tocava no final da noite, no Country Club de lá, na hora de ir embora. Não tinha apelo. “Marvin” estava no auge também, mas a música era muito triste, com morte de pai, morte de mãe, e era tudo o que eu temia – e já sofria bastante com a falta que eles me faziam (minha mãe tinha me deixado, em baixo do meu travesseiro, uma cartinha que guardo até hoje, onde ela me dizia que, mesmo longe, estaria comigo).

Camila, Camila, portanto, marcou essa época de pouquíssima azaração, mas de muito aprendizado. Tempos depois fiquei com uma moça chamada Camila, a primeira a permitir minha mão abaixo da linha do equador. Digamos que essa música homenageia dois momentos da minha vida, então.

E eu que tinha apenas dezessete anos
Baixava minha cabeça pra tudo
Era assim que as coisas aconteciam
Era assim que eu via tudo acontecer
Camila, Camila

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