quinta-feira, agosto 04, 2005

Estou em uma fila. Um celular toca perto de mim; não é o meu! Eu jamais baixaria o tema da pantera cor-de-rosa como ring tone. Olho pra trás e vejo uma moça, com uma expressão preocupada, esfregando as mãos no rosto, agitada. Loira e magra, com um rosto pálido e indefeso, quase angelical. A minha primeira reação foi pensar como acalmá-la. Poderia envolvê-la em um abraço e dizer “seja lá qual for o seu problema, eu sou a solução”. Mas sua angústia, ao invés de me causar compaixão, me deixa nervoso e quase mando ela à merda. “O que foi, quer passar na frente? Tá apertada?”, penso. Mas a ouço falando baixinho “eu juro, essa é a última vez” para alguém invisível, talvez sua consciência. Minha curiosidade é maior e começo a imaginar do que aquela alma penada se penitencia.

Agora dá dó de ver! Ela já não consegue mais refrear sua ansiedade e com voz de soluço continua o seu rosário “pra que eu fui fazer isso? Nunca mais, nunca mais”. Seus olhos estão vidrados. “A última, eu juro, a última”.

Ela treme! A fila se move. “O que será que essa moça fez?" pergunto pra mim mesmo. "Matou alguém e veio ao cinema? Está com o amante aqui e teme ser vista?”. Estou na sua frente. Gostaria de estar a quilômetros de distância dessa angústia. É algo que a corrói por dentro.

Sou atendido... agora é ela. “Eu quero uma grande, bem salgada, com muuuuita manteiga. Capricha, capricha, capricha, capricha, capri...” Ela pede, e repete... Recebe, quase sem respirar, chafurda naquele balde de pipoca escorrendo manteiga e pelo canto da boca agora todo tomada da graxa, repete “nunca mais, nunca mais, que delícia...” E vai embora, com uma expressão levemente demoníaca no rosto.

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