segunda-feira, janeiro 17, 2005

O Preço da Escolha

Essa é uma estória de escolhas e profissão. Agora que o Tio Randas é empresário no ramo editorial, quem sabe daqui uns 5 anos (exercitando todos os dias) não terei algo apresentável para oferecer, né? Projeto Livro 2010

Hans era bancário concursado, com grandes possibilidades de crescimento dentro do BB e uma provável aposentadoria polpuda. Estava se realizando profissionalmente e tinha orgulho disso. Eu era seu analista há 3 meses, no meu estágio de término de graduação. A sua sensação de vitória era imensa, pois tinha um histórico de infância na qual já passara privações, mas a dor da escolha pesava em seus ombros.

“Não” – respondeu-me ele em uma das sessões, “não tive que abrir mão de muitas coisas. Abrir mão de passar fome, de ser um Zé Mané, um perdido na vida? Fácil! O que realmente dói, doutor, foi não ter me casado com Lia, mãe provável e eleita dos meus filhos. Tínhamos até os nomes e descuidávamos da prevenção para que ela engravidasse e, assim, forçar seus pais a aceitarem nossa união. Aos 16 anos tirei minha carteira de trabalho (a foto, o senhor precisa ver), pois topava trabalhar de qualquer coisa para sustentá-la. Não sei se graças a Deus ou não, ela não engravidou, terminamos o namoro e estou aqui, com o troféu da vitória, mas com o gosto e a sensação da medalha de prata."

"Terminamos porque eu queria vencer na vida, não poderia ficar em uma cidadezinha de merda, no interior de Goiás. Tinha que estudar, batalhar, tirar o sorriso sarcástico do rosto daqueles que riam quando eu dizia que tudo iria mundar um dia. Mas, hoje, sei que o que eu queria mesmo era tê-la ao meu lado."

"Procurei por Lia nas festas de Natal; ainda tenho seu telefone. Achei que poderia resgatar meu passado, concluir meu sonho... Nunca tive decepção tão grande! Acho que eu até mereço, pela maneira que terminamos, quando eu disse a ela que preferia minha carreira. Posso te mostrar uma coisa?” perguntou.

Assenti e ele me passou uma carta:

Hans,

Desculpe-me se, quando você me ligou, fui fria e distante e tampouco quis te encontrar. Você me conhece e sabe como sou! Analiso minha vida, as possibilidades. Por isso, quero que você me entenda pelos motivos abaixo:

1. Fui tratada de uma forma absolutamente irresponsável por você no passado. Pensei: "Por que eu que tenho uma historia tão profunda com ele? Ele não esta me fazendo de boba?". Deixei pra lá, porque não valia a pena.

2. Estava agora na minha, feliz e saltitante. Sorry, mas não fui atrás de você. Não te convidei pra nada!

3. Gosto muito de você, muito mesmo. Todavia, não queria ter a mesma decepção. Prefiro continuar amando, à distância, o Hans que eu conheci muito tempo atrás, aquele que me aperta o coração.

4. Sutilmente quis que você entendesse, mas provavelmente eu seja muito ruim na sutileza; tenho que ser eu mesma, autêntica.

5. Por fim Hans, tudo isso são coisas da vida, fazem parte e não tenho raiva, mágoa, ou outro sentimento negativo, apenas queria que tivesse sido o que não foi.

Te adoro, um beijo grande, meu primeiro e grande amor.

Lia

Nenhum comentário: